ÁLVARO CAMPOS
Engenheiro Naval e Poeta Futurista
“A situação de Portugal”
Portugal é uma plutocracia financeira de espécie asinina. É uma
oligarchia de simuladores. Mas é uma oligarchia de simuladores provincianos,
pouco industriados na propriahysteria postiça. Ninguém já engana ninguém – o
que é tristíssimo – na terra natal do Conto do Vigario. Não temos senão os
vigaristas de praça como prova de qualquer sobrevivência das qualidades de
intrujice da nação. Ora um paiz sem grandes intrujões é um paiz perdido, porque
a civilização, em qualquer dos seus níveis, é essencialmente a organização da
artificialidade. Isto é, da intrujice. “Quem não intruja não come”; é esta a
forma sociológica d’um proverbio que o povo não sabe dizer, porque o povo nunca
sabe dizer nada.
(1925)
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