7.24.2012

ULTIMATUM DESTROIKO*

Mandado de despejo aos mandarins da Europa! Fóra! Fóra! 
Tu, cultura alemã, Sparta pôdre com azeite de christismo  e vinagre de
nietzschização, colmeia de lata, transbordeamento  imperialoide de
servilismo engatado!
Tu, Austria-subdita, mixtura de sub-raças, batente de porta typo K!
Tu, Von Belgica, heroica à força, limpa a mão à parede que foste!
Tu, Estados Unidos da America, synthese-bastardia da baixa-Europa, alho da
assorda transatlântica, pronuncia nasal do modernismo inesthetico!
E tu, Portugal-centavos, resto de Monarquia a apodrecer Republica, extrema-
unção-enxovalho da Desgraça!
 E tu, Brazil “república irmã”, blague de Pedro Alvares Cabral que nem te
queria descobrir!
Fóra! Fóra! Fóra!
E todos os chefes de estado, incompetentes ao léu, barris de lixo virados para
baixo à porta da Insufficiencia da Epocha!
E se houver outros que faltem, procurem-os ahi pra um canto! 
Tirem isso tudo da minha frente!
Fóra com isso tudo! Fóra!
Tudo daqui para fóra! Tudo daqui para fóra!
Ultimatum a eles todos, e a todos os outros que sejam como eles todos!
Se nao querem sahir, fiquem e lavem-se!
Fallencia geral de tudo por causa de todos!
Fallencia geral de todos por causa de tudo!
Fallencia dos povos e dos destinos – fallencia total!
Desfile das nações para o meu Desprezo!
Ponham um panno por cima de tudo isso!
Fechem isso à chave e deitem a chave fóra!
Agora a política é a degeneração gordurosa da organização da
incompetência!
Suffoco de ter só isto à minha volta!
Deixem-me respirar! Abram todas as janellas! 
Abram mais janellas do que todas as janelas que há no mundo!
Epocha vil dos secundários, dos aproximados, dos lacaios com aspirações de
lacaios a reis-lacaios! Sim, todos vós que  representaes a Europa, todos vós
que sois políticos em evidencia em todo o mundo, que sois litteratos
meneurs de correntes europeias!
Homens-altos de Lilliput-Europa, passae por baixo do meu Desprezo!
Passae vós, que sois auctores de correntes sociaes, de correntes literárias, de
correntes artísticas, verso da medalha da impotência de crear! 

Passae, frouxos que tendes a necessidade de serdes os istas de qualquer
ismo!
Passae, radicaes do Pouco, incultos do Avanço, que tendes a ignorância por
columna da audácia, que tendes a impotência por esteio das neo-theorias!
Passae à esquerda do meu Desdem virado à direita, creadores de “systemas
philosophicos”!
Passae e não volteis, burguezes da Europa-Total, parias da ambição de
parecer-grandes, provincianos de Paris!
Passae, decigramas da Ambição, grandes só numa epocha que conta a
grandeza por centimiligrammas!
Passae, provisórios, quotidianos, artistas e políticos estylo lightning-lunch,
servos empoleirados da Hora, trintanarios da Occasião!
Passae, “finas sensibilidades”, pela falta de espinha dorsal; passae,
constructores de café e conferencia, monte de tijolos com pretensões a casa!
Passae, cerebraes dos arrabaldes, intensos de esquina-de-rua!
Inutil luxo, passae, vã grandeza ao alcance de todos, megalomania
triumphante do aldeão de Europa-aldeia! Vós que confundis o humano com o
popular, e o aristocrático com o fidalgo! Vós que confundis tudo, que,
quando não pensaes em nada, dizeis sempre outra coisa! Chocalhos,
incompletos, maravalhas, passae!
Passae, pretendentes a reis parciais, lords de serradura, senhores feudais do
Castello de Papelão!
Passae, romantismo posthumo dos liberalões de toda a parte, classicismo em
álcool dos fetos de Racine, dynamismo dos Whitmans de degrau de porta,
dos pedintes da inspiração forçada, cabeças ôcas que fazem barulho porque
vão bater com ellas nas paredes!
Passae, absolutamente, passae!
Quem acredita nelles?
Quem acredita nos outros?
Descasquem o rebanho inteiro!
Mandem isso tudo pra casa descascar batatas symbolicas!
Lavem essa celha de mixórdia inconsciente!
Homens, nações, intuitos, está tudo nullo!
Fallencia de tudo por causa de todos!
Fallencia de todos por causa de tudo!
De um modo completo, de um modo total, de um modo integral!


* Adaptado de Álvaro Campos (1917), Portugal Futurista.

Autoria: Cli[o]torisídis**

** Da Grécia à Europa e à Democracia: “se delas  fui no passado o Berço da
Origem, delas sou no presente o Berço do Fim”.

7.20.2012

A situação da Europa


ÁLVARO CAMPOS

Engenheiro Naval e Poeta Futurista

“A situação da Europa”

Plutocracia? Isso é uma ilusão. Não há uma plutocracia. Há 2 typos de plutocracia. Há a plutocracia financeira – bancária, se quizer – como a que governa a França e Portugal. E há a plutocracia industrial, como a que governa os Estados Unidos, a Allemanha, e, menos caracteristicamente, a Inglaterra. Como o psychismo do financeiro e do industrial são diff[eren]tes, são diff[eren]tes também as plutocracias de um e de outro typo. A plutocracia financeira vive do acaso, de especulações – e essa característica revela-se em toda a ideia política de progresso em que deriva; a plutocracia industrial, por má que seja, tem que reflectir um pouco a organização, por moderante que seja, sem a qual nenhum norte pode existir.
(1925)

cli[o]torisídis

A situação de Portugal


ÁLVARO CAMPOS

Engenheiro Naval e Poeta Futurista

“A situação de Portugal”
Portugal é uma plutocracia financeira de espécie asinina. É uma oligarchia de simuladores. Mas é uma oligarchia de simuladores provincianos, pouco industriados na propriahysteria postiça. Ninguém já engana ninguém – o que é tristíssimo – na terra natal do Conto do Vigario. Não temos senão os vigaristas de praça como prova de qualquer sobrevivência das qualidades de intrujice da nação. Ora um paiz sem grandes intrujões é um paiz perdido, porque a civilização, em qualquer dos seus níveis, é essencialmente a organização da artificialidade. Isto é, da intrujice. “Quem não intruja não come”; é esta a forma sociológica d’um proverbio que o povo não sabe dizer, porque o povo nunca sabe dizer nada.
(1925)
  
cli[o]torisídis

antarab

antarab
Qulumryya